Thursday, May 27, 2004

PAZ

Esse comercial não tem mulher de biquíni,
não tem cachorro,
não tem criança,
não tem bebezinho.

Esse comercial não tem casal,
não tem beijo,
não tem pôr-do-sol,
não tem família tomando café da manhã.

Esse comercial não tem música de sucesso,
não tem efeito especial,
não tem tartaruga jogando bola.

Esse comercial não tem gente famosa
nem garoto-propaganda,
porque esse comercial é pra vender um produto
que ninguém precisa ser convencido a comprar.

Esse comercial é para vender um produto
que você adora consumir,
e que por sinal,
você até já comprou,
só que não estão entregando.

É um produto que não tem marca
nem tem slogan,
não tem embalagem
nem faz promoção tipo leve três, pague dois.

Esse comercial é todo branco
porque, desse jeito,
ele pode ser entendido aqui
e no mundo inteiro.

Aliás, seria muito bom
que esse comercial
pudesse passar no mundo inteiro.
Porque o produto que esse comercial quer vender
é a PAZ.

Enquanto o pessoal que precisa comprar a paz não compra, faça assim:
pegue o estoque de paz que você ainda tem em casa, e use.
Use no trânsito.
Use na fila do banco.
Use no elevador.
Use no futebol.
Paz é um produto interessante, porque quanto mais você usa, mais você tem.

E se todo mundo usar,
quem sabe chegue um dia
em que ninguém mais
precise fazer um comercial
para vender a paz.

Washington Olivetto

A.

Saturday, May 22, 2004

Reecontro
Depois de dez meses voltei a vê-la. Bem na minha frente, sentada, carregando o mesmo sorriso absurdo. Foi um simples oi. Não, nem isso. Um “subir e descer” de sobrancelhas. Sabe quando não é necessário mais nada além disso? Um “subir e descer” de sobrancelha carregado de expressões tipo “oi, você por aqui?!”, “nossa, há quanto tempo, hein?!” Mas foi só isso. Pensei em um beijo, desses de tia mesmo, buchecha com buchecha, que às vezes nem se tocam. Mas a idéia passou rápido. Na verdade, meu instinto de homem babão queria abraçá-la bem forte, mas o cheiro do meu remédio contra espinhas falou mais alto.
Não me entendi depois que virei a esquina. Há tempos que não me sentia tão feliz. Uma felicidade irônica, dessas que a gente pensa “eu sobrevivi e parece que você não”.
Não me questiono sobre meus sentimentos por ela. Sem dúvidas, uma parte minha ainda gosta muito dela. Vai gostar para sempre. Com muito carinho. Eternamente. Como dizem: tudo que é pra sempre é uma droga.
-Tenho, sim, muito afeto por você. Nunca vou te ver como uma pessoa comum. Mais nada. Foi bom enquanto “não durou”. Claro que podia ter sido bem melhor.
Fico imaginando o que ela pensa quando lembra de mim. Só mais um? Nem vem. Mexi e mexi muito bem, obrigado, com ela.
Eu estou namorando e você? Será que aquele durou? Acho que não. Talvez tenha se arrependido. Talvez não. Eu estou bem. Talvez melhor do que tivesse com você. Talvez nos topemos por aí um outro dia. Hoje eu te fiz lembrar, não fiz? Vai tentando responder o que você está se questionando. Qualquer dúvida, você sabe, não me pergunte.
A.

Wednesday, May 12, 2004

None
Ela que nasce
ela que fica
consome e desenha:
- alto lá!
hoje, grita:
- ou eu, ou você.
Sinto saudades.

Dá pra escrever hoje não.
A.